Após decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), conversas entre procuradores da operação Lava Jato e o ex-juiz federal Sergio Moro, apreendidas na operação Spoofing, tornaram-se públicas. Em diversas mensagens, os procuradores da República afirmam que iriam se reunir com Sergio Moro, que o consultariam ou precisavam ouvir a opinião do juiz sobre algum ponto.
Também há conversas em que então juiz federal fez pedidos e orientações ao procurador da República Deltan Dallagnol. O magistrado também informa ao então coordenador da Lava Jato no Paraná, antecipadamente, medidas judiciais adotadas contra investigados. A troca de mensagens foi obtida por hackers que invadiram celulares de autoridades brasileiras, como de Moro e procuradores. Tanto o ex-juiz, quanto os membros do MPF (Ministério Público Federal) negam a autenticidade dos diálogos.
No documento enviado a Lewandowski, os advogados de Lula afirmam que a fala de Tinoco revela “o uso estratégico do Direito para fins ilegítimos, além do claro desprezo pela própria integridade física de Lula”. O Poder360 apresenta abaixo detalhes de outros trechos das conversas atribuídas ao ex-juiz federal Sergio Moro e a procuradores da Lava Jato. Abreviações e eventuais erros de digitação e ortografia presentes nas mensagens foram mantidos nas falas:
TROCA DE INFORMAÇÕES COM OS EUA
Conversa de 4 de novembro de 2015, apresentada na página 4 do documento, indica que a força-tarefa da Lava Jato e o Sergio Moro trocavam informações e buscavam orientações de procuradores norte-americanos. A troca de mensagens mostra que Moro pede a Deltan Dallagnol para fazer “contato direto” com autoridades dos Estados Unidos e colocar procuradores norte-americanos para “trabalhar” em cima de uma ação da Justiça em relação a um processo da Lava Jato.
“Vc viu a decisão do evento 16 no processo 5048739-91? A diligencia merece um contato direto com as autoridades do US”, disse. Deltan responde: “Não tinha visto… creio que não houve intimação nossa ainda. Vamos providenciar. Obrigado por informar”. Moro então diz: “Colocar US attorneys [procuradores norte-americanos] para trabalhar pois até agora niente [nada] rs“. “Eles estão só sugando por enquanto. Hoje falei com eles sobre as contas lá da Ode [Odebrecht] pra ver se fazem algo rs”, responde Dallagnol.
Eis o trecho da conversa:
Confira matéria completa no Poder360.
OPERAÇÃO SPOOFING
Os arquivos das conversas foram apreendidos na operação Spoofing, que apura a atuação de um grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades, como o de procuradores e de Moro, e afirmam ter tido acesso a mensagens trocadas no Telegram. Em 25 de janeiro, Ricardo Lewandowski autorizou à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o acesso ao conteúdo apreendido. Dias depois, em 1º de fevereiro, o magistrado derrubou o sigilo das conversas. Assinado pelo perito Cláudio Wagner, o documento reúne diálogos de 3 de setembro de 2015 a 8 de agosto de 2017. O material tem, ao todo, 50 páginas.
A operação Lava Jato no Paraná foi deflagrada em março de 2014. O MPF anunciou o fim dos trabalhos do grupo dedicado às investigações na 2ª feira (1º.fev.2021). Durante o período da operação, advogados do ex-presidente Lula apontaram irregularidades nas investigações e questionaram a atuação das autoridades envolvidas. O ex-presidente –condenado duas vezes na operação Lava Jato, nos casos do tríplex do Guarujá e sítio de Atibaia– aposta nas mensagens extraídas do celular de Sergio Moro para obter provas de que o ex-juiz agiu de forma parcial ao condená-lo.
Parte dos diálogos que estão sob guarda da Justiça veio a público em 29 de janeiro e revelou Moro orientando os procuradores sobre como apresentar a denúncia contra o petista no caso do tríplex do Guarujá. Diversos outros diálogos também já haviam sido públicos por meio da chamada “Vaza Jato“, série de reportagens do The Intercept Brasil, algumas feitas em parceria com outros veículos, com base nos diálogos.
Em 1º de fevereiro, os advogados de Lula apresentaram petição ao STF com o conteúdo das conversas hackeadas apreendidas. Pediram a Lewandowski a autorização para o uso do material em processos e procedimentos envolvendo o ex-presidente e que estejam relacionados às mensagens, como os processos que pedem a anulação de condenações do ex-presidente sob o argumento de que houve parcialidade de Moro ao julgar os casos.
Na petição, a defesa de Lula destaca uma das conversas obtidas, na qual a procuradora Lívia Tinoco, diretora cultural da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), diz que “TRF, Moro, Lava Jato e Globo” tinham sonho de ver Lula preso para um “orgasmo múltiplo, para ter tesão”. A declaração foi feita no dia em que o ex-presidente foi preso, em 7 de abril de 2018.
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