Buracos sucessivos nas rodovias, acostamentos sem manutenção e falta de sinalização. Essa são algumas das reclamações de turistas, donos de hotéis e pousadas e gestores municipais potiguares sobre estradas que cortam o Rio Grande do Norte. Em alguns destinos turísticos, como Serra de São Bento, Monte das Gameleiras, Martins e Cerro Corá, na rota das serras, os casos são mais graves e pedem reparos urgentes, visando a alta temporada que se inicia com o inverno em vigência. No litoral, são vários os relatos de estradas esburacadas e em más condições. Neste mês, o Governo do Estado anunciou um pacote de R$ 62 milhões para recuperação de estradas em todos os distritos do Estado.
Em Cerro Corá, no Seridó Potiguar, distante 180 km de Natal, em alguns trechos há sucessivos buracos, um ao lado do outro, bem como a presença de plantação no acostamento. Para as regiões altas e nas subidas das serras, motoristas precisam redobrar a atenção para desviar dos buracos e não sofrerem acidentes nas áreas de encostas.
Quem vai à cidade todas as semanas do ano é a chef de cozinha Jane Silva, 39 anos. Ela mora em Natal e possui um restaurante num dos principais hoteis da cidade e lamenta as condições do acesso à cidade.
“A estrada está cada vez mais danificada. Qualquer chuva abre mais buracos grandes, a ponto de ocasionar acidentes. É uma estrada estreita, com vegetação, e torna-se perigosa por causa das curvas. Recentemente foi feita abertura nos paredões para poder passar as hélices do parque eólico, não foi feita proteção. Quando há chuva, me sinto insegura por causa das encostas fora os buracos. E não há sinalização também”, cita.
Problema corroborado pelo empresário João Marcelo Pereira, 38 anos. Segundo ele, os turistas que vêm de Natal e que frequentam a cidade reclamam das condições de acesso a Cerro Corá.
“Nosso movimento turístico é bom aqui na pousada e em restaurantes, mas o turista que entra na cidade já chega reclamando. O movimento está bom, mas as estradas estão péssimas”, aponta. Ele cita ainda que caso não haja melhoras, há o temor para o impacto no turismo para o Festival do Inverno.
Em alguns casos, segundo os moradores da cidade, motoristas e turistas preferem fazer um caminho mais longo para pegar uma estrada mais estruturada, passando por Currais Novos e Lagoa Nova, trecho de 22km da RN-087 recém-inaugurado em 2021 e que custou R$ 8,7 milhões ao Governo do Estado, com recursos do Banco Mundial.
Os problemas se repetem em outras cidades que fazem parte da rota das serras no RN, como Martins, Monte das Gameleiras e Serra de São Bento, que anualmente promovem festivais de inverno ao término da estação.
“Antes da época das chuvas, nós tínhamos um mínimo de tapa-buracos aqui. Agora no final do semestre temos o Festival do Inverno, onde os turistas correm para cá e aquecem a economia”, aponta. “Se for esperar acabar as chuvas para fazer os serviços, será um caos, porque a estrada não aguenta chegar até lá. E é a época em que o fluxo de visitantes na região mais do que triplica”, aponta o empresário Fabiano Ramalho, 50 anos, dono de uma pousada em Serra de São Bento.
Melhorias
Prefeitos de cidades afetadas com acessos deficitários cobraram melhorias por parte do Governo do Estado. Para o secretário de Turismo de Serra de São Bento, Diel Figueiredo, é urgente a melhoria nos acessos à cidade, uma vez a alta estação turística já foi iniciada.
“As estradas de Serra de São Bento estão um desastre, bem difícil. O acesso à cidade está ruim, porque é pela RN-093 de São José do Campestre em direção à Passa e Fica. E a RN-296 também está bem danificada. Essas RN dão acesso ao polo Agreste/Trairi e beneficia 5 municípios, com destinos procurados no Estado. As pessoas querem conhecer a região, que é bonita, mas tem esse fator do acesso que é o básico: como você vai entrar num local em que o acesso é complicado?”, aponta.
O titular do Turismo aponta que já foi solicitado melhorias ao Governo do Estado visando à alta estação. “São questões que precisamos melhorar imediatamente. Estamos em plena alta estação, que vai até agosto. Se por acaso as estradas forem corrigidas em julho, agosto, passou 80% da temporada”, diz. Serra de São Bento, segundo ele, recebe 100 mil pessoas na estação.
O prefeito de Cerro Corá, Raimundo Marcelino Borges (PSDB), o Novinho, disse que interlocutores da gestão estiveram em Natal para cobrar providências para a estrada nas últimas semanas. “A estrada está horrível, com muitos buracos. A preocupação é diminuir o nosso fluxo de turistas. A exigência do turista é a estrada. Muitos evitam de colocar seu carro na buraqueira. Expectativa é que até o Festival de Inverno a estrada esteja adequada”, disse.
Governo anunciou R$ 62 milhões para estradas
As estradas do Rio Grande do Norte terão um aporte de R$ 62 milhões em 2023, segundo aponta a Secretaria Estadual de Infraestrutura (SIN) e o Departamento de Estradas e Rodagens do RN (DER/RN). As pastas assinaram, no último dia 05, um total de sete contratos relativos às obras de conservação de rodovias em todo o estado. A etapa de execução destas obras, que teve início nesta semana, terá investimento de R$62 milhões e faz parte das primeiras ações previstas pelo planejamento de manutenção e recuperação das estradas do RN.
“É importante afirmar que há um planejamento do Governo do RN para a recuperação da malha rodoviária do nosso Estado, que começando com a conservação dos casos urgentes, passa pela restauração de trechos críticos e culmina em obras de maior complexidade – como a construção de novas estradas e requalificação com aumento de capacidade de rodovias já existentes – para as quais já temos os projetos prontos”, informou o Secretário da Infraestrutura Gustavo Coelho.
Ainda segundo o secretário Gustavo Coelho, para as cidades específicas abordadas pela reportagem, há planejamento de intervenções de conservação dos trechos até o fim de junho. O titular da pasta aponta ainda que o Governo possui recursos da ordem de R$ 75 milhões para aplicação ainda em 2023, e há ainda outra projeção de aplicação de R$ 75 milhões em 2024.
“Iniciamos agora no dia 10 e agora esperamos conciliar esse trabalho com a estação chuvosa que estamos vivenciando. Não podemos executar esse serviço em áreas com alvo de chuvas por pelo menos três dias, porque satura e não há a aderência entre o pavimento novo e velho. Esses contratos abrangem os sete distritos do Estado”, aponta. “Martins e Serra de São Bento em breve terão tapa buracos, porque são destino turísticos. Os critérios que estabelecemos foram a criticidade da própria rodovia e a quantidade do tráfego em primeiro plano”, cita.
Também está na mira do Governo a reconstrução integral de estradas. Já há projetos para alguns desses trechos, considerados críticos. A expectativa é buscar investimentos com o Governo Federal para execução desses projetos. Essa segunda licitação devemos publicar em maio, no valor de em torno de R$ 75 milhões para 2023 e outro contrato do mesmo valor para 2024”, finaliza Coelho.
Segundo o Governo, mesmo com o período de chuvas, tem sido avançar nas ações de conservação mais conhecida como a operação de “tapa-buracos”. Os trabalhos tiveram início esse mês de abril e, até agora, já foi possível cobrir diversos trechos:
RN 316: entre Monte Alegre e Brejinho; RN 315: em Cobé; RN 304: entre a Av. Moema Tinoco e Genipabú; RN 269: entre Serra de São Bento e Passa e Fica; RN 177: entre Pau dos Ferros e Encanto, e entre Dr. Severiano e São Miguel; RN 117: entre Tenente Ananias e Alexandria; RN 079: entre Marcelino Vieira e Alexandria; RN 063: Pirangi do Norte; RN 023: entre Santa Cruz e Coronel Ezequiel (incluindo serviços de meio-fio, descida de água e bueiro).
Tribuna do Norte
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